sábado, 27 de junho de 2009

Luxúria

Por definição de dicionário , a Luxúria é a libertinagem, a lascívia, a exuberância, a sensualidade, o viço das plantas.


Entendemos a Luxúria como uma exuberância dos sentidos, da sexualidade, uma embriaguez do corpo e da alma das sensações.


Pecar por Luxúria seria ser possuído pelo desejo desmedido de obter a magnificência dos sentidos e da sensualidade.


Percebemos que a Luxúria, em nossa época, é freqüentemente confundida com a Gula. A Gula é o prazer primário, do 2º centro de força, que é a compulsão, avidez pelo prazer que a troca com o outro traz. (Seja da comida, do sexo, do afeto, do álcool ou das drogas).


O pecado da Gula é a busca desmedida que o prazer nos leva, sem levar em conta a qualidade. Os gulosos desejam mais e mais até se empanturrarem. A quantidade é que conta, não a qualidade. Não toleram a falta e não há individualização para escolhas elaboradas. Favorece a escolha da mesma, tipo sociedade de massa.


Uma boa imagem da Gula são as orgias romanas ou os inúmeros modelos de diversão oferecidos pela sociedade americana. São eles os legítimos representantes dos “rodízios ávidos de prazeres primários”.


Assim, quase todos os exemplos de luxúria que são citados não passam de grosseiros pecados da Gula.O sofisticado pecado da Luxúria é uma orgia do sentir com grande refinamento sensual. Necessita de tempo, qualidade, magia dos sentidos, liberdade de criação e abundância que é a condição de quem não tem medo da falta. Condição que o estressado homem atual está longe de possuir. Como ser um libertino, ou seja, como usar desmedidamente sua liberdade, se não sente condições de dispor de sua pessoa de forma livre e espontânea?Parece que a sociedade atual só tem referência do que seja Luxúria no sentido visual ou mental, pois nesses campos está em um apogeu dado pelas inebriantes imagens de fotografias, da televisão, das propagandas e do cinema.


Mas, como levar essa Luxúria a nível do corpo, do sentir em geral, é algo muito distante para o homem comum. Tão distante quanto os festins árabes ou ciganos que tentamos trazer até nós como a dança do ventre, etc. Tão encantados e longínquos como os sofisticados rituais gregos. A sociedade grega parece que conheceu a liberdade de usufruir das delícias da sensualidade, do corpo, da mente e da essência da vida. É possível que nos seus banquetes, as “Symposias”, houvesse sensualidade e estímulos suficientes para que os homens gregos e suas Hetairanes sucumbissem ao pecado da Luxúria.Hoje, compra-se um pacote para praias baianas, para o Caribe ou Ilhas Gregas na ilusão que se obterá um pouco de Luxúria e com isso trará um novo viço ao corpo. Mas, luxúria não combina com falta de tempo, com avidez por resultados ou roteiros pré-estabelecidos. Poucos na verdade sabem se abrir aos orgasmos que a natureza, a comida, um cheiro, um banho, uma idéia ou o corpo do parceiro pode ofertar. Como nos ensina a cozinha francesa, um clássico exemplo da luxúria do paladar, é preciso se entregar às nuanças do inesperado, às sutilezas sensoriais da qualidade e as altas voltagens do prazer que só freqüências delicadas podem propiciar.A maioria dos turistas voltam dos santuários paradisíacos com a sensação de ter comprado “gato por lebre”, sem ter reconhecido ou usufruído da embriagante luxúria da natureza. Alguns chegam a deixar atrás de si um amontoado de lixo, produzido pela voraz Gula, matando com seu desperdício e pouco cuidado, aquilo que tanto queriam obter:“um convite ao banquete da vida”.Enfim, cá estamos sobrecarregados com a produção e tarefas como a formiga da fábula de Esopo, que se torna irada diante da inacessível e incompreensível luxúria da cigarra. Cigarra que usufrui até morrer do prazer de cantar. Que assim como os personagens do filme “Império dos Sentidos” transgridem os limites possíveis para usufruírem até a morte, narcotizados pelo pecado da Luxúria.Pobre homem atual, que como a Formiga de Esopo, apenas vê e imagina a Luxúria. Não corre o risco, no entanto, de cometer o pecado porque sua vida está aquém da condição de ser possuído pela Luxúria. Aquém de usufruir da sensualidade e abundância de estar vivo no planeta Terra.





Acely Gonçalves HovelacqueAbril/1999




Só sei eu que as duas melhores coisas da vida são COMER!

E comer as coisas certas faz um bem à pele......
Nesse caso, luxúria e gula, realmente, tem muito mais a ver do que se imagina....

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